Foto: https://revistacult.uol.com.br/home/alberto-martins-ilhas/
ALBERTO MARTINS
( São Paulo )
Alberto Martins (Santos SP 1958)
Gravador, escultor, escritor e poeta.
Alberto Alexandre Martins é mestre em literatura brasileira pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - FFLCH/USP. No início da década de 1980, cursa gravura com Evandro Carlos Jardim (1935) no Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP. Em 1985, recebe bolsa de aperfeiçoamento da Capes/Fulbright, e estuda gravura em metal, xilogravura e história da arte no Pratt Graphics Center, em Nova York. Desde essa época, dedica-se à gravura em madeira, escultura e poesia, e atua como ilustrador.
É autor dos livros Poemas (Duas Cidades, 1990) e Cais (Editora 34, 2002), ilustrados com gravuras de sua autoria. Dedica-se também à literatura infanto-juvenil e lança os livros Goeldi - História de Horizonte (Paulinas, 1995), pelo qual recebe o Prêmio Jabuti, e A Floresta e o Estrangeiro (Companhia das Letrinhas, 2000), poema realizado com base em guaches e aquarelas de Lasar Segall (1891 - 1957). Em 2000, conclui o doutorado em poéticas visuais pela ECA/USP com o trabalho intitulado Cais - um conjunto de desenhos, xilogravuras, esculturas e poemas que apresentam imagens realizadas com economia formal e constantemente retomadas: cascos de navios, barcos, guindastes, volumes e caixas, presentes na paisagem portuária de sua cidade natal.
Fragmento de biografia: https://www.escritoriodearte.com/artista/alberto-martins
ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA: ANOS 90. Seleção e
prefácio Paulo Ferraz; direção Edla van Steen. São Paulo:
Global, 2011. (Coleção Roteiro da Poesia Brasileira)
ISBN 978-85-260-1156-4 Ex. bibl. Salomão Sousa
Dia a dia
sintetizo uma resina:
negra, biliosa
fadada a ferir os signos
vedar temporariamente os poros.
Assim construo
esse cristal opaco
que resiste aos nomes
e os contamina
(Poemas (1990)
O OUTRO LADO
A vida após a morte
não é tão fácil
de ser levada.
Não para quem morre
mas para quem fica:
todo o pessoal da retaguarda.
Que inferno ir à praia
na manhã vazia
— de canal a canal
sem dar palavra.
O morro pelo menos
escapou do dia a dia:
já não precisa lavar o pé
antes de entrar em casa.
( Cais (2002)
RIMBAUD NA AMÉRICA
Joelhos em febre
outro na barriga
e — quase esquecia —
as varizes:
assim desembarcas
encharcado até os ossos
pelo sal da Abíssinia.
No fundo, o desejo
de estar sempre de partida
como se poesia fosse
— horror à terra firme! —
a orla
de um litoral absoluto.
Mas há recifes na costa
e dentes de esqualo
no alto-mar.
Além do quê,
é impossível prever
quando o espírito
— santo
ou maligno —
falará.
Por isso engole as pedras
que trouxesse no bolso
Aqui terás de recomeçar.
( Ibidem)
POESIA SEMPRE. Minas Gerais. Número 22. Ano 1. Janeiro – Março 2006. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2006. ISSN 0104-0626. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
Discurso da Demissão Voluntária
1.
ah cadeira e mesa do escritório
feitas sob medida
para o trabalhador anônimo
por vocês passaram tantos nome números
agendas compromissos e toneladas
de palavras escritas
hoje despeço-me da duas sem remorso
deixo a fornica limpa
para a próxima vítima
2.
agora que sou só
uma força avulsa
no mercado
em cada esquina
oferecem-me pechinchas
por minhas horas de cérebro
o trabalho
sei que no fundo
é uma luta perdida
a única que vale
para ganhar a vida
*
Página ampliada e republicada em agosto de 2024
*
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Página publicada em junho de 2022
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